Kafunji Mahin
3 min readMar 29, 2023

Orí busca sempre um caminho em si

A moleira do bebê é um osso que só “fecha” após determinado tempo. Ela nasce “aberta” para facilitar a passagem do bebê pelo canal vaginal até sua total saída durante o nascimento, e permanece aberta para suportar o crescimento rápido do cérebro do bebê.

Alguns dizem que a moleira se fecha ainda bebê, outros que se fecha no final da primeira infância, período em que o indivíduo apreende grande parte do que irá formar a base da sua personalidade e caráter, e onde ele irá se basear no que aprendeu para guiar sua vida no futuro.

Há um itan que conta sobre a vinda de três amigos do orun pro ayê e fala que graças a um ebó ignorado, dois dos amigos vieram pro ayê com um Orí defeituoso, faltando partes. E tudo o que eles trabalhavam ao longo da vida, era para reparar o dano feito aos seus ori na vinda para o ayê, enquanto o terceiro amigo prosperava e enriquecia, graças a não ter negligenciado o ebó a ser feito.

Obviamente, um bebê ainda não trabalha para recuperar as partes que faltam de seu Orí, mas pense ai em quantas vezes ao longo da vida, você precisou lembrar de fundamentos la da sua infância, pra recuperar partes de si que foram se perdendo ao longo da vida?!

Aquele ensinamento da mãe, um puxão de orelha do pai, aquele colo de vó, um olhar do vô...eu me lembro de um dos primeiros exercícios de meditação que o Dieguin Beto Òkòtó fez, no Itojú, onde ele pediu pra nos imaginar num lugar qualquer. Minha mente me levou imediatamente pra casa da minha avó, e cada cômodo da casa ia me levando por um momento da minha infância, com determinada idade..

Na sala eu tinha 12 anos e via meus cachorros, como eu amava aqueles dois! No quarto eu tinha uns 8 e ia vendo objetos da minha infância até que chegava no quintal, com 4 anos e entrava na casa da minha tia, que era no mesmo quintal. Quando eu entrava pela sala minha bisa tava sentada na cadeira, do jeitinho que ela ficava quando dava 18h.

Ela ouvia a “ave maria” pelo rádio, depois desligava e começava a contar histórias. Eu não sei quantas vezes isso se repetiu, mas sei que é uma memória muito viva na minha cabeça. Eu me sentava pra ouvir a história, encostava a cabeça no colo dela, e ela me fazia carinho. Então, uma luz muito forte cegava a vista, e de repente a gente estava embaixo de uma grande árvore e ela me dando conselhos.

Essa bisavô especificamente, faleceu quando eu tinha 4 ou 5 anos, e todas as lembranças que eu tenho dela são das histórias contadas ou dos sonhos onde ela vem me visitar quando eu preciso tomar alguma decisão importante ou minha vida vai dar uma virada.

Dessa vez, não foi sonho, mas meu Orí quem precisava buscar algo, para então seguir, para reconstruir mais um pedaço das partes que ficaram faltando na vinda pra cá. Foi Orí que precisou buscar em si um caminho novo num lugar familiar, em mim...